( Para leitura em sala sem móveis. Paredes brancas. Luz que entra pela veneziana. Amarelada. A imagem é mais clara em baixo, perto do chão, até o teto vai escurecendo. Impressão falsa de infinito...)
Nesse tempo que não tem lugar. A mulher que digo haver em mim, busca um foco em papel sem letras. Desses dias, só o tempo. As coisas aparecem sem quereres ou procuras. Simples como virar a cabeça olhar pro canto e ver. Os papéis, por exemplo, neste, de rascunho escrito: - 'A vida só é possível no esquecimento'. Até a música, da página aberta, me grita: '- corra, recorra, morra, renasça'. No grito da rua embaixo: - Jogue fora! – Eu compro! No telefone que toca: - Desculpa, foi engano! No maço vazio na bolsa: - Não fume! No arroz queimando na panela: - Não coma! No revertério do estômago: - Não beba! Na memória que não esquece e no gesto paralisado: - Seja!
Agora, é meio dia... hora de me esquecer. Primeiro passo: esquecer desta memória faladeira...
E ousar aquele salto, pra fora de mim mesma. De que me serve um chão? Esse, ainda. Sempre o mesmo. Passo à frente, não liberta, cuspo a pedra que sufocava meu grito. Pulo!
Um comentário:
Uau! Gosto do teu jeito de escrever, Sra D. Assim com quem cospe fora a pedra que lhe sufoca o grito...
Uma escrita libertadora. Obrigado também
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