
Poucas e Boas
Que expressão estranha, não? Dava-me conta quando falava... Quase nunca isso acontece de verdade.
A carta ( encontrada nos escombros da casa velha. Ano 1958):
"... Sumo por precisão. Apresso o tempo por necessidade. Que passem os dias por mim. Plano B: Resolvi voltar à proposta anterior... Pensava de longe; Se é pra ser jogo que seja lúdico. E eu: - “Quero a palavra que sirva na boca do passarinho”... Entrego-me as letras, fujo – embora sem muita convicção - das profundas significações. Quero a palavra pura. O instante já. ( e isso não é mera coincidência) E aí me delato; e aí eu confesso... Vontade de ter controle. Pronto; é isso. Faria planos se pudesse conter a inconstância que carrego no mundo, dele. Se me conhece-se diria frases amenas sem sentido, voz baixa como quem conta uma história para acalentar o que não tem sono. Falando em história, uma, eu ia lembrando... Ah! Mas já não vale a pena contar; aquele tempo ficou pra trás. Agora, refaço, ou melhor, desfaço a poesia de mim e, vejo o mundo. É Seco. É Vasto. Dizia-me há tempos um poeta: - até quem nos ama nos oprime e afugenta. E eu que realizo isso na carne... Te digo: É puro. Poesia dói. Mas o mundo dói mais. Palavra é fuga. Perco-me para algum dia, quem sabe, talvez, entre escombros encontrar a ponta do fio que me enredava. Abro os olhos no escuro e o que não vejo é minha redenção. Vivo pelo que não vejo. Debruço-me nessa escuridão, ando tateando minha razão. Respiro música e fumaça, ambos resquícios daquilo (...) Tão grande, tão desvairado, talvez triste... Não restaria nenhuma certeza – eu já esperava. De longe observo meus passos, são tímidos e eu tenho medo... Pior. Cansaço. Fecharei os olhos, descanso meu (dês) esperar em vagueza."
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