
J.M.W. Turner (1775 - 1851)
Meia-noite, meia-luz, algo em que me finjo espreita a sala pequena, pequena em relação à outra, mas imensa em relação a mim. Eu que deito e não tenho sono, eu que sou palavras quando esqueço de sonhar. Embalo. As letras agrupam-se sozinhas, transmutam-se em imagensons. Chove. Corre água. Corre gente... Fugir, para onde? Se é tudo mar. Desponta aquela luz, já te conheço, aparece-me nas noites de mim, nas noites longas onde tudo se oculta e apalpo a razão com meus gritos. Você que é alheia a minha vontade; divido tudo, o indivíduo que sou e não se basta quer espelhos para se mirar e não ver. Reflito-me em você luz de noite, luz guia, luz que cega. És como um farol para os navegantes perdidos de rotas e direções. Nesses mares de vida, onde remamos em círculos, nadamos para nos afogar, e na calmaria boiamos a deriva de lugares, de pátrias, sentido. Soltos nas ondas, cruzamos mares em instantes e qualquer vento, quem sabe, nos devolve o horizonte. Melhor assim. Prefiro o mar. Não escolho, mas prefiro. Já conheci lugares áridos e desertos, sem água a vista clareia e o pensamento chega ao limite. Aqui tão líquido, plasmo formas de ser, não penso, e sou. Unifico mundos, os invento e os afogo dentro daquilo que pareço possuir. Na correnteza desse mar se encontro bóias de que me adiantaria agarra-las em desespero? Que passem por mim, que passem... E não deixem nem lembranças...
2 comentários:
Eu gosto muito disso!
Abraços, Douglas.
Não sei se gosto, ás vezes sim. Gosto que gostem. Egocentrismo, ou necessidade de ser outros? Vai saber... Grande Abraço
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